Quase chorei escrevendo Kath... É simplesmente uma história tocante.
Ela veio à minha mente enquanto eu pensava em coisas que poderiam me magoar.
Não quero falar muito... Apenas não é real.
Have fun 'n' cry
Kath
Zöe,
Preciso de você.
Kath.
As palavras de Kath foram simples e diretas, mas me deixaram preocupada demais. Kath nunca pediria minha ajuda se não fosse algo importante. Kath não falava comigo há dois anos, ela definitivamente não tinha motivos pra me procurar.
Katherine era minha melhor amiga desde quase sempre, mas perdemos contato quando ela mudou de escola para ficar mais tempo com Rick, o namorado dela. Achei a atitude dela mesquinha, mas mesmo assim tentei manter a amizade por quanto tempo fosse possível. Ela ignorava meus telefonemas e não respondia às minhas cartas. Era nossa tradição. Sempre trocávamos cartas, mas ela simplesmente abandonou nossa mais preciosa forma de demonstrar amizade.
Eu imaginava que Kath já tivesse esquecido de minha existência, vendo todo o tempo em que estivemos separadas. Jamais imaginaria que ela fosse pedir ajuda a mim... Provavelmente ela estava muito desesperada.
Por causa do namorado ela não só me abandonou, mas também a Matt. Nós éramos um trio. Éramos inseparáveis. Abandonou aos melhores amigos para ficar apenas com Rick. Todos da escola perderam a confiança nela imediatamente, apenas eu continuei tentando fazer com que ela voltasse.
Na minha agenda da oitava série ainda estava o número dela e de tantos outros ex-colegas... Eu não sabia de cor, como o de Matt, mas jamais havia esquecido os últimos dígitos... 1307. O aniversário dela. Treze de julho.
Tentei ligar para ela, mas o número havia sido cancelado. O celular também não atendia. Soube que ela havia se mudado, mas nunca me disseram para onde.
Não houve nenhum modo de encontrar a Kath. Guardei o bilhete em meu quadro de fotos e deixei lá, para o caso de ela me procurar de novo.
Passaram-se meses. Kath não mandou outro recado; não telefonou.
Quando estava olhando minha correspondência encontrei o já tão conhecido envelope azul. A caligrafia era cuidadosamente desenhada, deixando claro que muito tempo fora gasto até chegar àquele nível de perfeição. Não havia remetente. No envelope havia apenas o meu nome, mas eu sabia exatamente quem a enviara. Katherine.
Abri a carta ali mesmo, no hall do prédio.
Zöe,
Imagino o quanto lhe preocupei enviando apenas o pequeno bilhete sem nenhuma explicação.
Vou lhe explicar a razão por ter procurado você depois de... dois anos, certo?
Acontece que o Rick terminou comigo no dia do meu aniversário. Eu fiquei sem chão; não sabia o que fazer ou mesmo quem procurar. Eu havia abandonado todos os meus amigos para apenas viver em função dele. Havia saído de casa para morar no apartamento dele. Não terminei a escola. Não terminei meus cursos. Comecei a trabalhar, mas fui demitida logo que recebi meu primeiro salário; encontraram alguém mais qualificado.
Eu fiquei sem chão, não tinha como imaginar o que aconteceria comigo depois daquele instante. Voltei para casa e minha mãe me recebeu de uma forma dura. Eu sabia que isso aconteceria, mas não havia nenhuma esperança de que eu pudesse voltar para o apartamento do Rick.
Fiquei em meu quarto durante dias, saindo apenas para comer. Não atendia aos insistentes telefonemas dos meus amigos. Minha mãe havia contado a alguns que eu tinha voltado para casa, mas eu não tinha mais o seu telefone, então ela não te ligou.
Depois de mais ou menos duas ou três semanas – eu desisti de contar o tempo – parei de comer. Não aguentava mais viver sem o Rick.. Eu não queria aceitar o fato de que eu estava grávida. Não queria contar a ninguém. Sabia que ninguém entenderia e muito menos minha própria família. Foi assim que descobri o que eu queria fazer e quem eu queria procurar.
Saí no meio da noite e fui de táxi até o seu prédio, deixei o bilhete e saí. Voltei para meu esconderijo escuro e não saí mais de lá.
Desculpe se te preocupei... Deixei seu endereço anotado em uma folha de papel e um bilhete para minha mãe pedindo para que ela entregasse a você.
Não pude viver sem ele.
Me desculpe, Zöe... Fiz tudo o que você me disse para não fazer e tudo o que eu provoquei foi tristeza e preocupação.
Só queria te avisar que não estarei viva quando você ler isso. Os meus analgésicos acabaram a menos de três minutos. Logo terão o efeito desejado. Minha morte. E a do meu filho.
Você é especial para mim, Zöe.
E Matt também, mas não tive coragem de procurá-lo.
Desculpe, mais uma vez.
Kath
Eu estava chorando quando acabei de ler a carta. Minha amiga. Katherine. Ela não havia sobrevivido à depressão.
Queria visitá-la, mas não sabia onde seu corpo estava. Guardei a carta com muito cuidado entre meus textos mais importantes e tranquei novamente a gaveta secreta que um de meus muitos antigos amigos havia construído para mim.
Corri para meu apartamento e tranquei-me em meu quarto.
Chorei até que as lágrimas deram uma estiada, liguei para Matt e contei a ele a triste história de nossa melhor amiga. Ele chorou comigo.
Voltei minha atenção para meu presente e tentei aprender uma lição com a história de Kath. Eu jamais mudaria minha vida por causa de um garoto, ou de uma amizade. E jamais abandonaria minhas amizades pelos mesmos motivos.
Eu decidi, naquele momento, que minha vida teria razões mais importantes que as razões de Kath... Derramei minha última lágrima por minha melhor amiga e comecei a escrever para tentar me acalmar.
A ultima coisa que eu diria à Kath se pudesse seria que ela havia sido muito estúpida, mas uma coisa estaria sempre pairando por minha mente. A frase que eu mais gostaria de ter dito nos últimos momentos dela:
Eu amo você, Kath.