sábado, 19 de março de 2011

Caroline

Caroline. Era o único nome que me vinha à mente hoje. Na verdade não só hoje... Isso tem acontecido há muito tempo, mas tento evitar o máximo possível pensar nela. Ainda mais depois que tive certeza que a amava. O grande problema é que ela tem um namorado. Meu melhor amigo.

Caroline e Samuel estão juntos há três anos e a cada dia mais apaixonados. Tirando, claro, os dois meses em que passaram brigando e eu, como sou amigo dos dois, acabei consolando-os. E aproximei-me demais de Caroline.

Eu sabia todos os seus segredos, as manias, os gostos... Quando ela estava triste ia até minha casa ou me telefonava. Somos vizinhos. Eu colocava sua música favorita – que por acaso era a minha também –, lia um trecho de um livro que ela gostasse, contava minhas estórias inventadas, comíamos sorvete deitados no sofá vendo uma comédia romântica qualquer...

Caroline e eu parecíamos um casal feliz. E eu acabei me deixando levar pelo momento e tive esperanças de que ela deixasse Samuel de uma vez e me desse uma chance. Sei que fui egoísta ao pensar assim, porém eu estava apaixonado. Não conseguia parar de pensar em Caroline e ela estava sempre por perto.

Em cada livro que lia uma das personagens tinha características dela, todas as minhas histórias começaram a falar de amores impossíveis e de paixões incontidas. Cada música contava um pouco do que tínhamos vivido naqueles dois meses. Era impossível ignorar o sentimento e deixá-lo morrer. Eu tinha que ser egoísta e pensar em mim. Mas também tinha que saber que tudo tem um limite.

Um dia Caroline chegou à minha casa com um sorriso imenso. Há muito eu não a via sorrindo daquela forma sem que eu a animasse. Ela estava radiante, parecia ainda mais linda. Seus longos cabelos lisos e castanhos recém lavados estavam soltos sobre os ombros, seus olhos negros pareciam poços sem fim, onde cada vez que tentava encontrar o fundo sentia-me perdido, mas tinham um brilho que a muito eu não encontrava. Parecia um pouco menos pálida. Sua bela pele morena emanava uma aura angelical.

Caroline vestia short jeans e uma camiseta rosa larga e chinelos. Ela sempre usava roupas largas demais e chinelos. Dizia que combinava com o estilo despojado que tanto gostava. Suas unhas estavam pintadas de vermelho sangue e usava uma maquiagem negra pesada nos olhos. A maquiagem era sua marca registrada.

Ele me ligou hoje, Pedro.” Ela parecia tão feliz. E não precisou dizer a quem se referia. Sabia quem era ele. Sabia que era Samuel. Sorri um meio sorriso e ela entendeu como um incentivo a continuar. “Samuel me pediu desculpas por todas as nossas brigas. Ele disse que entende que estava sendo muito possessivo. Mas entendo o ciúme dele. Trato meus amigos bem demais. Ele pode estar entendendo errado. Vou tentar diminuir isso.

Convidei Caroline a entrar. O caminho era bem conhecido já. Ela automaticamente seguiu pelo corredor entrando na segunda porta à direita. Meu quarto. Onde tantas vezes a ajudei. Não consegui sustentar o sorriso por muito tempo. Assim que ela passou por mim meu rosto se contraiu em uma expressão entre a dor e descrença. Repreendi-me por pensar assim. Eu deveria querer o melhor para ela.

Quando cheguei ao quarto a vi deitada de bruços em minha cama com meu iPod em mãos. Ela colocou aquela mesma música que muitas vezes eu tinha posto para animá-la. Assim que me viu sentou-se e ficou observando meu rosto, me esperando sentar ao lado dela, como sempre. Por mais que eu tentasse ocultar, Caroline viu que eu não estava tão feliz quanto das outras vezes que ela me visitara.

O que aconteceu?” Ela se levantou e foi até a porta. “O que está te incomodando? Pode me falar. Você me ajudou por tanto tempo... Vou fazer tudo o que for possível pra te ajudar a ficar feliz. Gosto do seu sorriso.” O abraço foi inesperado. Caroline simplesmente me abraçou ali, sem hesitar. Sua voz era suave, bem ao lado do meu ouvido. “Vou estar sempre ao seu lado. Nunca vou te deixar.” Não passava de um sussurro, mas o efeito foi tão devastador quanto um grito. Doeu ouvir.

Não é nada, Caroline... Eu só... Estou estranho hoje. Logo passa.” Eu esperava que minhas palavras fossem reais, mesmo sabendo que não eram. Eu sabia que não a esqueceria e que o sentimento não morreria tão fácil. Ela me puxou até minha cama e se sentou ao meu lado. “Não quero te ver triste. Quero te ajudar.

Assim que ela falou isso pensei em me declarar. Falar o que sentia por ela e o que os últimos dois meses tinham significado pra mim. Mas acontece que o telefone dela tocou. E era Samuel, procurando-a para que pudessem sair e se reencontrarem depois de tanto tempo. Pela forma alegre com que ela falou com o Samuel eu desisti de lhe contar o que estava na minha mente. Ela não merecia que eu estragasse a felicidade dela.

Com um beijo rápido no meu rosto, Caroline se despediu e correu até a porta. “Adeus, Pedro. Melhoras! Qualquer coisa me liga.

Adeus, querida.” Sussurrei para o quarto vazio. A música que ela colocara estava chegando ao fim. Peguei meu casaco e saí deixando o iPod tocar na casa deserta. E então comecei a tentar me distrair, mas para onde ia encontrava casais felizes ou amigos conversando animadamente e comprando sorvetes. Aqueles foram os piores dias da minha vida. Desde que Caroline voltara com Samuel.

Caroline. Era o único nome que me vinha à mente hoje. Na verdade não só hoje... Isso tem acontecido há muito tempo, mas tento evitar o máximo possível pensar nela. O único problema é que essa tentativa é sempre frustrada e a imagem de Caroline deitada em minha cama mexendo em meu iPod para colocar nossa música para tocar enche minha mente e eu só posso e só consigo sorrir. Com as lágrimas irritantes descendo por meu rosto.