quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ser Feliz, Fernando Pessoa

Ser Feliz


Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…

terça-feira, 27 de abril de 2010

Gélido inverno

     Tenho estado tão... triste. Minha mente falhou em bloquear as emoções que ainda teimam em invadir meu ser. Agonia tem sido frequente.
        Minha tão amada solidão jamais me feriu tanto quanto agora o faz. O abandono de quem amo, ou amava, dói imensamente mais quando sem querer começo a sentir. Aquela sensação estranha que todos tem... Saudade. Jamais consegui livrar-me dela.
        Sei que não há fundamentos em tais pensamentos, mas sempre considerei o abandono e a solidão dádivas do destino para mim, mesmo não me achando merecedora de tanto. Sou apenas uma adolescente medíocre.
        Passar anos vivendo praticamente sozinha abriu meus olhos. Pais ausentes, irmãos que nem ao menos sei como estão, a casa grande vazia... Nada me trás consolo quanto à dor; o silêncio monstruoso invade a mansão juntamente com a negritude da noite e me aterroriza.
        Jamais confie em “amigos”. A humanidade é corrompida, e cada um busca apenas os próprios interesses, o melhor para si; é impossível que realmente alguém se importe comigo ou com meus problemas sem visar algo para si. Esta é a ordem natural. Apenas os melhores sobrevivem; estes são sempre os solitários.
        A solidão trás seus pontos positivos, como o homem poder estar consigo mesmo e ao mesmo tempo longe de outras pessoas.
        Junto com minha tristeza há o sentimento de culpa. Não encontro razões para tal... Destruir corações nunca foi encarado como algo perverso e digno de tal sentimento. Não me sinto hábil para conviver com alguém. Foi um erro me envolver.
        Antes a companhia daquele que deixei para trás me mutilava; agora sua ausência o faz. Ele é insubstituível, mas não há como voltar atrás. Aquilo que muitos chamam de destino costuma divertir-se torturando meu coração.
        Muitas vezes tentei mudar o tal... destino. As cicatrizes em minhas pernas, braços e pulsos mostram o quanto minha tentativa de fugir do sofrimento foi insistente, mas ainda assim sem sucesso, dado que ainda vivo. Não me arrependo de tê-las feito, mas de não concluí-las antes que alguém me encontrasse jogada contra o chão.
        Muitos dizem que minha história consiste em uma superação, uma vez que ainda estou viva... Ou quase. O torpor ainda invade minha mente, mas ele está diferente.
        Antes uma névoa envolvia minha mente, protegendo-me do exterior; tal névoa se dissipou e então o sofrimento começou. Forcei para que ela retornasse, mas em seu lugar encontrei gelo. Viver em um gélido inverno dentro da própria cabeça é doloroso.
        Tentar derreter o gelo para que voltasse a névoa somente piorou. Envolvi-me novamente com prazeres carnais e impossíveis; sonhei, criei expectativas... Descobri que não sei o que esperar. Não sei o que é ser feliz.
        Por mais que busque, ou queira, creio que jamais descobrirei o sentido de felicidade. Meu gélido inverno, em breve, voltará a ser o escaldante verão, onde sufocarei dentre vapores venenosos e voltarei a sofrer imensamente e suplicarei para que a dor estranha e distinta que o gelo trás para mim retorne para meu ser, transformando-me, de novo, em um gélido inverno.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Intuição


          O ano começara um pouco diferente do normal. Meus amigos não estavam mais tão próximos. Era meu último ano em companhia daqueles que estiveram tão presentes na minha vida durante os anos anteriores. Era inevitável que a dor viesse.
          Tanto tempo eu pude contar com meus amigos e agora simplesmente tenho que deixá-los e partir. Alguns meses se passaram. Já era novembro e eu não tinha dito adeus ainda. Tinha apenas algumas semanas para tentar resolver tudo.
          Wake me up when september ends.
          Eu desejava mais do que tudo simplesmente sumir dali. Não queria mais ter que preparar meus amigos para a despedida que viria. Eu me mudaria. Iria para o Sul de qualquer forma. Precisava sair dali. Era insuportável.
          Durante alguns dias ignorei a existência de todos os meus amigos. Tranquei-me em meu quarto, como de costume. Eu não tinha idéia do que fazer. O som baixo da música entrava em meus ouvidos como gritos. Green Day, uma de minhas bandas preferidas. Em algumas canções a batida era leve, mas ainda assim parecia forte. Coloquei as mãos sobre os ouvidos.
          No terceiro dia Mateus me ligava a cada meia hora para saber como eu estava; Diego a cada cinco minutos. Fernanda me enviava mensagens a todo o instante, insistindo para que eu respondesse; Caroline estava no msn chamando minha atenção sempre que conseguia.
          Mateus estava acostumado com meus desaparecimentos repentinos. Já estavam virando rotina. Fora assim desde que tivemos um problema, mas minha ausência total ainda era estranha para ele.
          Diego era um caso um pouco mais complicado. Próximos demais. Doía para ele não ter notícias minhas, eu sabia disso, mas ainda assim não estava pronta para contar que o abandonaria. Não queria que ele fosse apenas mais um em minha lista de antigos amigos. Os nossos planos seriam abandonados para sempre.
          Fernanda me ajudara em tantos momentos... Apareceu em minha vida pouco depois da ida de Caroline. Tínhamos alguns planos, mas nenhum deles vai ser cumprido. Eu estraguei todos.
          Caroline... Ela não tinha razão de estar preocupada. Anos tinham passado desde que tínhamos nos visto por mais de uma semana. Ela estava morando longe, mas nunca nos afastamos. Caroline era minha melhor amiga de infância. Estava vivendo do outro lado do país desde que era ainda uma criança, mas ela ia para o Sul comigo. E depois para a Europa. Era nossa promessa.
          O msn estava começando a incomodar. Aquela luz azulada piscando na barra de ferramentas. O telefone do meu quarto não parava nem mesmo um minuto e meu celular estava sempre reproduzindo o alerta de mensagens e chamadas. Tudo estava me agoniando. Desliguei o computador sem nem mesmo ler as mensagens, tirei a bateria do celular e desconectei o cabo do telefone. Agora, definitivamente, eu estava isolada de todos.
          Cinco minutos. Eu não precisava de mais tempo, apenas de cinco minutos para ficar comigo mesma. Sozinha em meu quarto para pensar. O que era certo? O que eu deveria fazer?
          Várias vezes ignorei meus pensamentos. Apenas segui por instinto e tudo dava certo. Meu mundo já havia desabado várias vezes, mas na maioria delas minha intuição não era ouvida. Talvez fosse melhor pensar mais um pouco.
          O tempo passava lentamente. O pêndulo do relógio era constante, marcando cada segundo com um som. Nenhuma solução aparecia em minha mente. Nenhuma forma de melhorar, de seguir sem chorar.
          Desisto. Chega de pensar. Vou deixar minha intuição me guiar. Só espero que ela esteja certa desta vez também.
          Liguei novamente todas as formas de comunicação do meu quarto. No subnick do msn escrevi: “Não me perguntem o porquê. Vou me mudar para o Sul e ser feliz.” Mandei mensagens para o Mateus, Diego e Fernanda falando da minha decisão e dizendo que sentia muito por ter que deixá-los assim. Os telefonemas logo começaram, me pedindo pra explicar melhor. O msn explodia de mensagens perguntando o porquê de uma decisão tão repentina...
          Calmamente expliquei a todos, como já tinha feito com meus pais. Era o melhor pra mim e o meu sonho. Caroline estava excessivamente feliz e não via a hora de arrumar as malas e encontrar-se comigo em Santa Catarina. Tudo estava perfeito para ela. Matt, Diego e Fernanda não conseguiam acreditar no que eu estava fazendo.
          Foram algumas horas até que finalmente todos perceberam que eu não mudaria meus planos e que embarcaria em duas semanas. Todos disseram que iriam levar-me até o aeroporto para me dizer adeus. Caroline disse que me buscaria no aeroporto do Sul.
          O tempo passou rapidamente. Recebi muitas visitas dos meus amigos em casa. Eles diziam que queriam aproveitar o máximo o restante do tempo que tinham comigo. Meu telefone não parava nem mesmo um instante. Prometi que mandaria uma mensagem assim que saísse do avião e avisaria endereço e telefone novos.
          O dia chegou. Dia 1º de dezembro. Todos estavam em minha casa no horário combinado. Nem mesmo um minuto de atraso. Ajudaram-me com minhas malas e levaram-me. Não quis que meus pais fossem também. Já teriam lágrimas demais apenas com meus amigos...
          A despedida fora dolorosa. Todo o preparo fora inútil. O distanciamento tinha deixado de existir nas duas últimas semanas e tínhamos voltado a ser melhores amigos. Insistiram para que eu desistisse, mas, por pouco, consegui voltar as costas para eles e entrar no avião que me levaria para uma nova antiga vida. Para uma vida com minha melhor amiga Caroline.
PS.: O texto acima não pertence ao livro Quarto dos Escritos.