segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Matt

Momento: aula de química, conversando com meu marido melhor amigo, Pedro. [/Histórias, histórias;
Motivação: conversas recentes.
Texto não real e nem baseado em fatos, por favor, não me perguntem se é real!


Mas então, depois de toda essa explicação sobre o texto vamos aos fatos.
Eu tava tipo, meeeega mal no domingo e o Pedro me ajudou a pensar, aí eu tive um lapso criativo hoje e escrevi [/uhul o/
Mas então, eu não sei mais o que escrever aqui.
Beijos, e divirtam-se,
Laa Righi


Matt



O tédio havia tomado meu corpo e minha mente. A insanidade estava próxima, eu podia sentir que chegaria logo. A exaustão não me deixaria lúcida por muito tempo.
A casa estava barulhenta; havia muitas pessoas na sala de estar conversando com minha mãe. Elas estavam lá para me ver e eu havia me trancado para apenas pensar. Mesmo assim era impossível ficar parada em meu quarto, apenas observando a minha vida parada. Eu precisava sair de casa e descobrir quem eu era, o que eu queria fazer e o que eu sonhava. Parecia impossível sequer pensar dentro daquele quarto claro demais.
O clima está repulsivo, pensei, mas mesmo assim preciso sair.
Desliguei o ar condicionado e o ventilador e saí para o calor exorbitante de primavera no Rio de Janeiro. Em menos de dois minutos eu já podia sentir as pequenas gotas de suor que escorriam sem pressa pelo meu rosto e por minhas costas.
Eu andava cambaleante em meio aos pedestres que estavam a minha volta. Lentamente dirigi-me, sem perceber, em direção à rua movimentada.
Apenas quando um carro avançou perigosamente em minha direção foi que percebi exatamente onde estava... A praia. Eu sempre ia para lá quando estava triste ou pensativa, mas desta vez estava cheia demais. Havia muitos espectadores para um possível show dramático, eu sabia que não poderia parar ali.
Imaginei outros lugares onde eu teria paz para pensar apenas; sem companhia, apenas eu e minha mente... Infelizmente esse lugar não existe – minha consciência sempre me contava que ele não existia no mundo que ficava do lado de fora de minha casa. Eu sabia que o único lugar onde estaria completamente sozinha era o meu quarto, mas era o último lugar em que eu gostaria de estar naquele dia. Eu simplesmente desejava estar longe.
Setembro era um mês aterrorizante pra mim... Além daquele calor exagerado que quase chegava aos 40º diariamente eu ainda tinha que participar de uma festa de aniversário que eu nunca pedira para ir e ainda parecer feliz.
Muitas pessoas olhavam para mim quando passavam com seus cães ou simplesmente mudavam a direção do olhar, passando por mim rapidamente. Tinha de ser minha roupa, uma vez que eu não passava de uma adolescente comum: olhos escuros, cabelos lisos presos, nem gorda e nem magra, sem um corpo excepcional, apenas normal. Como eu estava vestida? Era sábado, portanto não me incomodei com escolha de roupa, uma vez que não iria à rua, e eu tinha saído de minha casa no meio daquela “festa” repulsiva, mas não tinha reparado na roupa que eu vestia...
Oh não! Eu estava com uma saia colorida que caía com pequenas camadas até meus pés e uma camiseta branca com um lírio azul bordado. Simplesmente não era o meu estilo e nem mesmo o tipo de roupa ideal para uma caminhada na praia. Aquela roupa chamava muita atenção, sem dúvidas, tinha que ser aquilo.
Caminhei até algumas ruas à frente e lembrei-me de que um dos meus poucos amigos morava lá. Era bom ter amigos. Eu não tinha noção do que significava essa palavra, amigo, até pouco tempo atrás.
Mateus morava a alguns metros da praia, naquele prédio que eu já conhecia tão bem. O porteiro nem mesmo perguntou pra onde eu iria, somente abriu o portão e interfonou diretamente para o 602 e sorriu ao dizer calmamente: Pode subir, ele está te esperando lá em cima.
O elevador estava no quarto andar, então tive que aguardar até que chegasse ao térreo. Olhei para o espelho e assustei-me com a visão perturbadora. A menina que estava lá parecia uma princesa, de tão delicada. Estava frágil, com a maquiagem azul turquesa levemente borrada por causa das lágrimas sutis que haviam escorrido por seu rosto, o cabelo nem preso e nem solto estava um pouco desgrenhado, mas nada que não pudesse ter sido feito propositalmente. A roupa dela ainda estava perfeitamente alinhada a seu corpo. Eu me sentiria bem se me visse andando daquela forma. Aquela roupa me faria me sentir bem. Desejei que sentimentos fossem como roupas.
Ouvi o leve ruído das portas do elevador antigo e rapidamente parei de analisar a menina no espelho. Ao atravessar a porta lembrei-me que havia outro espelho. Agora a menina me olhava mais de perto... Ela estava a menos de um passo de mim e eu pude analisar sua expressão. Estava melancólica, parecia ferida e pronta para chorar novamente, mas se forçava a manter a postura de garota forte. Mesmo assim não conseguia esconder totalmente o choro. As pequenas lágrimas escorriam devagar por seu rosto. Senti um gosto salgado quando uma das lágrimas alcançou o canto dos lábios dela.
Limpei meu rosto e virei-me para a porta. Eu não aguentaria ver a menina chorando. Eu sabia que a menina era eu, mas não queria acreditar. Fechei os olhos.
A porta abriu novamente e eu ouvi o ruído baixo. Não precisei ao menos empurrar a pesada porta. Mateus o fez e me abraçou ali mesmo. Ele sabia que eu precisava de apoio, mas mesmo assim não fez nenhuma pergunta; não disse sequer uma palavra.
Matt me levou até a casa dele e sentou-se no sofá. Aninhei-me em seu colo. Eu não precisei explicar, apenas chorei. Eu tinha todos os meus dilemas e não queria falar deles, mas Matt conhecia todos ainda mais do que eu.
- Matt... Me ajuda... Por favor...
Ele não disse nada. Meu telefone tocava sem parar desde pouco depois de eu ter saído de casa. Era minha mãe, eu sabia, mas não queria falar com ela. Matt atendeu e disse que eu estava lá e que depois me levaria para casa quando eu melhorasse. Minha mãe conhecia Matt, não tinha razões para desconfiar dele, mas ainda assim ela ficou preocupada e pediu pra falar comigo. Desliguei o telefone assim que toquei nele.
Não precisei explicar o porquê da minha reação.
Matt sabia que era meu aniversário, mas não me desejou os parabéns. Eu não ligava para aquelas baboseiras e odiava festas e atenção. Apenas entregou meu presente: um CD de uma de suas bandas preferidas. Eu queria aquele CD, queria conhecer mais dele, do meu melhor amigo...
Chorei no ombro dele e fui reconfortada, até que ele se levantou. Voltou com um removedor de maquiagem, provavelmente da mãe dele, e disse:
- Usa isso, você tá horrenda!
Eu ri e fui até o banheiro. Eu realmente estava horrível. Gargalhei vendo aquela menina frágil de outra hora, aquela menina que parecia uma princesinha e que agora estava com o rosto completamente manchado de azul. Droga de lápis permeável.
Mateus me levou para casa e ficou lá até o final da minha festa. Quase todos já tinham ido embora, portanto eu consegui ficar um pouco do lado de fora do meu quarto.
Aquele dia tinha começado de uma forma tão repulsiva que eu não tinha sequer acreditado que alguma coisa poderia dar certo, mas Matt sempre fazia isso. Matt sempre me fazia feliz.
A prova disso estava escrita em vermelho na minha parede verde:


O Matt é o melhor amigo da Zöe,
e sempre vai ser.


Obs.: Chorei escrevendo.

Um comentário:

Mrs. Alheta disse...

Simplesmente perfeito ... segurei as lágrimas ( não me pergunte como !).Você nasceu para escrever !

Bjks no tum tum