sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O fim abre espaço para um novo início

Durante bastante tempo postei contos e cartas aqui no blog, mas como existe a possibilidade de que tais contos transformem-se em um livro, vou parar de publicá-los aqui.
Este não é o fim do meu hobby, mas é uma chance de deixar de ser uma pseudo-escritora e de realmente entrar de cabeça no mundo literário.
Queria dizer que sempre agradeci muito aos que tiveram paciência de ler meus textos e que criticaram. Estas pessoas me incentivaram, mesmo sem saber, a continuar escrevendo e a tentar melhorar. Buscando a perfeição tive a oportunidade de alcançar meus objetivos.
Então... Desculpe-me se desapontei aos meus poucos leitores, mas tenho que correr atrás do meu sonho e, caso não existam contos inéditos, não haverá nenhuma emoção na leitura do meu possível livro, ainda sem nome.
Quem quiser ter acesso a esse material, após sua publicação, poderá me procurar em qualquer uma das redes sociais que tenho conta (orkut, msn, twitter e formspring).
Obrigado pela ajuda e compreensão de todos.
Escritora de gaveta, Zöe, Laise.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Escritora

Olhando pela varanda o pequeno bosque já tornara-se invisível, com o cair da noite. Os pássaros não faziam mais nem um barulho sequer. Apenas ouvia-se o ruído baixo dos carros passando longe, na rua ao lado e o som quase inaudível do rádio no quarto ao lado. O ambiente perfeito para uma escritora trabalhar.
Mas ela tornara-se um estorvo na vida de todos na casa. Não trabalhava mais. Nada fazia. Estava deprimida.
Os livros jaziam sobre a mesa do quarto. Ninguém ousava ao menos tocá-los, mesmo que para guardar. A cama estava sempre ocupada. Ela estava lá, deitada, praticamente morta, desligada de tudo o que ocorria em volta. O computador onde tantas vezes escrevia animadamente seus contos permanecia desligado. As canetas, os cadernos e as várias folhas amassadas ainda estavam no chão, ao pé da cama esperando ansiosamente uma nova história para preencher-lhes o espaço vazio. A caneca onde sempre era servido o tradicional café forte ainda estava lá, ao lado de tantas memórias, vazia.
Tantas vezes ela descrevera a depressão, a tristeza, o medo, a desconfiança. Em tantas histórias seus personagens ultrapassaram barreiras fortes, perdas e dores, mas nunca desistiam. Eram fortes. Mas ela não. Ela estava lá, ainda deitada na cama esperando que a vida voltasse a ser feliz. A perda de sua inspiração a havia tomado todas as forças. Seu rosto tornara-se uma máscara triste, pálida, sem esperanças.
Apenas o rádio deixava o quarto com um pouco de vida. A música não saía do ambiente. Tristes e alegres estavam lá, sendo acompanhadas pela voz suave da escritora. A máscara movia-se lentamente para acompanhar as letras das canções que alegravam levemente o quarto.
As crianças que moravam na rua sempre a procuravam, esperando que ela lhes contasse novas histórias. Ficavam sentadas por horas, escutando a escritora cantar suavemente. As histórias ficavam sempre para o outro dia. Tal dia nunca chegaria, diziam alguns. Os adultos aguardavam ansiosamente que seus filhos voltassem com notícias dela. Era muito querida no bairro onde morava, mas sempre fora fechada e não tinha muitos amigos próximos. Encontrara companhia em livros e jamais achou necessário buscar mais alguém para compartilhar suas aventuras. Apenas conhecera uma pessoa, e entregara-se completamente, fazendo dela sua inspiração.
Mas ele se fora, com o tempo todos vão, nada é eterno. A escritora desistira de viver. Não era velha. Talvez ainda não tivesse alcançado seus 30 anos, era impossível determinar. A máscara não deixava. Mesmo com tanta beleza desistira de buscar outra maneira de ser feliz, apenas desejava ter seu amor de volta. Ninguém sequer imaginava o que tinha acontecido ao noivo. Num dia estava lá e no outro havia desaparecido. Muitos dizem que fugira, por medo ou buscando atenção, não se sabe. Outros dizem que encontrou outro amor e resolveu abandonar a escritora. Alguns dizem que ele estaria morto. Muitos são os rumores, mas nada é confirmado.
A escritora passara meses aguardando seu amado, sua inspiração, a razão de sua vida, mas ele não retornara.
Cansada de apenas esperar ela levantou-se certo dia, no meio da noite e caminhou até a varanda, munida de lápis, borrachas e algumas folhas em branco. A família apenas observava em silêncio os passos cuidadosos da escritora. A tão querida filha mais nova, o orgulho de toda a casa.
Pelo descostume andar tornara-se uma tarefa árdua. Passo após passo ela apoiava nos móveis e nas paredes por todo o caminho, desde o quarto, de onde saía ainda a música suave até a varanda.
Olhando pela varanda o pequeno bosque já tornara-se invisível, com o cair da noite. Os pássaros não faziam mais nem um barulho sequer. Apenas ouvia-se o ruído baixo dos carros passando longe, na rua ao lado e o som quase inaudível do rádio no quarto ao lado. Sentara-se à pequena mesa e começara a arranhar o papel com a ponta de um dos lápis. Contou toda a sua saudade, todo o seu amor, toda a sua dor e descreveu com detalhes a sua depressão. Contou sobre as crianças e sobre seus pais, contou sobre a música e sobre as estrelas que observava todas as noites.
Poucos leram aquele texto, mas diziam que era o mais belo. Ainda mais perfeito do que uma melodia ao piano, que uma obra de Shakespeare, que um amor real. A dor transformou o amor em poesia. Fora o último texto daquela escritora, que perdera para sempre sua maior inspiração: seu amor próprio, sua auto-estima, sua vida.

A Fuga


Mais uma semana no spa Maria Bonita... Comida natural, exercícios físicos, comida viva... Vida saudável.
Um grupo de 13 adolescentes estava indo até bem, porém o estoque de comida industrializada estava chegando ao fim e ainda nem era quarta feira. Os planos da "máfia" adolescente começaram a aparecer. Como fariam para conseguir mais comida? Não havia pais ou outros adultos dispostos que pudessem comprar algo para nós fora do spa, como fora feito no ano anterior.
O melhor plano fora denominado "A Fuga".
Na quarta feira a tarde, durante o horário livre, enquanto alguns jogavam bola, video game ou faziam massagem, três veteranos caminharam calmamente pelo spa até uma abertura no arame farpado da cerca do spa. Passaram por baixo e começaram a correr loucamente. A adrenalina chegara a mil em apenas um segundo. Os três diminuíram o passo após algum tempo, quando não podiam mais ser vistos. A estrada de terra estava deserta e, após uma caminhada constante, o Zé olhou para trás e parou e disse:
- Três cavalos. Somos três. É o destino!
- Claro que não, ow. A gente não pode pegar os cavalos - disse Laa. - Eles tem dono.
- E não estão selados - era o Ademir. - Não dá pra andar assim.
Desistiram dos cavalos e continuaram a caminhada. Chegando à estrada havia uma bifurcação. Perguntaram a uma senhora que passava pela rua no momento e descobriram o caminho certo (na verdade qualquer um daria certo) e começaram a subir a rua de terra até a estrada.
- Pra que lado é agora? - Ademir perguntou.
- Para a esquerda - disse o Zé.
- Acho que é pra direita... - Laise disse, com certa dúvida.
Era para a direita. Quase que os três erraram o caminho. Seria um incômodo acabar no portão do spa por engano. A tia da loja os atendeu brincando. Comentou sobre a dieta rigorosa do spa e os ajudou a guardar as compras (alguns biscoitos, sucos e doces). Os três resolveram comprar picolés, portanto os tomaram na lojinha. Pouco antes de sair cada um dos meninos comprou um guaravita e agradeceram à tia.
Atravessaram a estrada com os casacos estufados e, pouco depois de começar a descer a rua para retornar ao spa escutaram uma buzina. Zé falou:
- Deve ser alguém do spa. Vamos logo, ignora.
O carro parou e a voz tão odiosa foi ouvida.
- Querem uma carona?
Era a nutricionista! Os três analisaram o carro devagar. A filha mais nova estava no banco traseiro, sem expressão; a filha mais velha (famosa x9) estava no banco da frente, com um sorriso sarcástico na face e, atrás dela estava Jaqueline, a nutricionista do spa. Três pensamentos correram as cabeças dos adolescentes:
Zé: Esconde o guaravita!
Laa: Logo ela!
Ademir: Ah, fudeu!
O momento de pânico tirou a voz de todos. O primeiro a falar foi o Zé:
- Precisa não. A gente está fazendo uma caminhada.
O carro arrancou e ainda foi possível ver o sorriso sarcástico no rosto das duas nos bancos da frente. Os três começaram a correr, os M&M's começaram a cair no bolso do casaco do Zé e os biscoitos a cairem do casaco da Laa (que por acaso era do Zé). Depois de um tempo de corrida e de todos estarem ofegantes entraram em um acordo. Não correriam mais, esconderiam as compras assim que entrassem no spa e começariam a acreditar em destino (lembrando: os cavalos).
Chegaram e procuraram um local para esconder. Havia uma casa ao lado da cerca. Os três deram a volta na casa e Laa encontrou o esconderijo perfeito: pulando a valinha havia um coqueiro, o saco foi colocado lá e coberto com folhas secas (elas tinham espinhos). Os três voltaram devagar para os chalés para não levantar suspeitas sobre onde era o esconderijo.
Ao chegar ao chalé os três contaram o ocorrido a um grupo pequeno e resolveram buscar as compras antes de anoitecer. A Laa falou que iria, mas não sozinha, então a Luh foi junto com ela e, para não levantar suspeitas, deram a volta por todo o spa, indo depois para a casa ao lado da cerca.
No caminho o porteiro começou a gritar. Falava coisas sobre não sair do spa, ou algo assim. As meninas o ignoraram por um tempo, mas depois a Laa gritou:
- A gente só tá andando!
Voltaram a caminhar, chegaram à árvore e destaparam as compras, esconderam-nas nos casacos e voltaram a andar. O porteiro não as viu voltar, mas todos as viram nos chalés, então não houveram suspeitas. Os doces foram distribuídos, as histórias contadas. Apenas duas pessoas estavam sendo procuradas, não perceberam que o Ademir também fugira, o que foi bom para a reputação dele. O Zé ganhou o apelido de "fujão" no diploma da formatura do spa. E a história será lembrada por todos os 13 adolescentes que estavam no spa Maria Bonita no mês de janeiro de 2010.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carta de um apaixonado V

O sol brilhava forte naquela manhã de verão. Não passava muito das 8 e já podia sentir minha pele queimando sob o sol. Meus ombros ardiam devido ao calor forte.
O som das ondas deixava-me melancólica. Lembrava-me da última vez em que estive tão próxima das águas do mar, por acaso em companhia dele. Daquele que tanto amo, mas não deu certo. Descobri que não fomos feitos um para o outro.
Tantas coisas aconteceram desde o início do verão... O céu deixou de ser azul, a areia clara e o mar calmo. O mundo desabou. O pôr-do-sol tem, agora, um tom gris, o céu tornou-se negro.
O romantismo se foi, acompanhou o caminho daquele que se afastou de mim sem hesitação. Apenas voltou-se para a saída e não olhou para trás.
Não pude acreditar quando tudo havia mudado, que minha vida havia deixado de ser perfeita, calma e feliz. Depois de tantas experiências divididas, tantos sonhos compartilhados... Simplesmente terminou. Era certo como o fim do dia, o sol sempre encontra o mar, o dia sempre dá lugar à noite.
O amor acabou. A poesia se foi. A alegria encontrou seu fim.
Uma carta pequena, porém sincera, sobre um amor longo e mentiroso. O destinatário será minha gaveta novamente. Não tenho coragem ainda de mandar tais palavras para a pessoa certa, aquela que jurava ser a certa.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Amigos


- Diego! Diegoo!
Ele não olhava. Estava com os fones de ouvido, eu tinha certeza. Tentei de novo, só que mais alto.
- DIEGOOO!
O shopping inteiro olhava para mim agora, menos Diego. Meu melhor amigo. Ele era quase o melhor amigo perfeito de uma garota de 16 anos, quase 17. Pena que ele era completamente distraído.
Cheguei perto dele e o abracei. Ele levou um susto e quase me bateu, mas percebeu quem eu era poucos segundos antes de me acertar (ou morrer de susto).
- Ah, Zöe, não tinha visto você aqui. Está atrasada.
- Na verdade você ta atrasado, eu tava te esperando. Mas isso não importa. Vamos comer! To com fome...
- Pra variar...
Nós rimos e fomos para a mesma lanchonete de sempre tomar o nosso café. Como sempre ele pediu uma torta de chocolate e eu, além do meu tradicional cappuccino, pedi um lanche maior.
- Diego...
Ignorada.
- Diegooo! Eu quero chocolate!
Falei com “voz de criança fazendo birra”, como costumavam dizer. E meu rosto também estava parecido com o de uma criança, ou melhor, com um bolinho.
Ele começou a rir e me deu um pedaço grande demais. Como sempre fui desajeitada deixei o pedaço cair no prato. Ele riu mais ainda e eu o acompanhei. Aquelas coisas só aconteciam perto dele... Era divertido demais ser desajeitada.
O celular dele tocou. Era a Camille, uma das amigas dele que não gostava de mim. O meu nome não foi citado nem uma vez na conversa que foi excessivamente longa... Nem mesmo na hora em que ela perguntou onde ele estava. Fui comprar um sorvete para mim e um pro Diego.
Quando Diego desligou o telefone começou a rir. Só depois de um tempo fui perceber que ele ria de mim. Eu estava toda suja de sorvete. E ele não era o único que estava rindo da minha situação. Desesperada comecei a me limpar. Eu estava totalmente vermelha. Olhei a hora. Seis e meia.
- Diego, hora de ir.
- Verdade. Pra variar hoje você conseguiu me divertir.
- Ah, me deixa!
Começamos a rir, pegamos nossas coisas e saímos da lanchonete. Fomos para a casa do Mateus rindo ainda. No meio do caminho conversamos sobre o futuro e pareceu estranho que tínhamos as mesmas expectativas. E os mesmos medos.
Mateus estava nos esperando, assim como vários outros amigos. Quando vi que estavam jogando vídeo game e conversando pensei: “Esta noite vai ser divertida”, sentei no sofá cheio, peguei um dos controles e me diverti de verdade com amigos de verdade.