sexta-feira, 2 de abril de 2010

Intuição


          O ano começara um pouco diferente do normal. Meus amigos não estavam mais tão próximos. Era meu último ano em companhia daqueles que estiveram tão presentes na minha vida durante os anos anteriores. Era inevitável que a dor viesse.
          Tanto tempo eu pude contar com meus amigos e agora simplesmente tenho que deixá-los e partir. Alguns meses se passaram. Já era novembro e eu não tinha dito adeus ainda. Tinha apenas algumas semanas para tentar resolver tudo.
          Wake me up when september ends.
          Eu desejava mais do que tudo simplesmente sumir dali. Não queria mais ter que preparar meus amigos para a despedida que viria. Eu me mudaria. Iria para o Sul de qualquer forma. Precisava sair dali. Era insuportável.
          Durante alguns dias ignorei a existência de todos os meus amigos. Tranquei-me em meu quarto, como de costume. Eu não tinha idéia do que fazer. O som baixo da música entrava em meus ouvidos como gritos. Green Day, uma de minhas bandas preferidas. Em algumas canções a batida era leve, mas ainda assim parecia forte. Coloquei as mãos sobre os ouvidos.
          No terceiro dia Mateus me ligava a cada meia hora para saber como eu estava; Diego a cada cinco minutos. Fernanda me enviava mensagens a todo o instante, insistindo para que eu respondesse; Caroline estava no msn chamando minha atenção sempre que conseguia.
          Mateus estava acostumado com meus desaparecimentos repentinos. Já estavam virando rotina. Fora assim desde que tivemos um problema, mas minha ausência total ainda era estranha para ele.
          Diego era um caso um pouco mais complicado. Próximos demais. Doía para ele não ter notícias minhas, eu sabia disso, mas ainda assim não estava pronta para contar que o abandonaria. Não queria que ele fosse apenas mais um em minha lista de antigos amigos. Os nossos planos seriam abandonados para sempre.
          Fernanda me ajudara em tantos momentos... Apareceu em minha vida pouco depois da ida de Caroline. Tínhamos alguns planos, mas nenhum deles vai ser cumprido. Eu estraguei todos.
          Caroline... Ela não tinha razão de estar preocupada. Anos tinham passado desde que tínhamos nos visto por mais de uma semana. Ela estava morando longe, mas nunca nos afastamos. Caroline era minha melhor amiga de infância. Estava vivendo do outro lado do país desde que era ainda uma criança, mas ela ia para o Sul comigo. E depois para a Europa. Era nossa promessa.
          O msn estava começando a incomodar. Aquela luz azulada piscando na barra de ferramentas. O telefone do meu quarto não parava nem mesmo um minuto e meu celular estava sempre reproduzindo o alerta de mensagens e chamadas. Tudo estava me agoniando. Desliguei o computador sem nem mesmo ler as mensagens, tirei a bateria do celular e desconectei o cabo do telefone. Agora, definitivamente, eu estava isolada de todos.
          Cinco minutos. Eu não precisava de mais tempo, apenas de cinco minutos para ficar comigo mesma. Sozinha em meu quarto para pensar. O que era certo? O que eu deveria fazer?
          Várias vezes ignorei meus pensamentos. Apenas segui por instinto e tudo dava certo. Meu mundo já havia desabado várias vezes, mas na maioria delas minha intuição não era ouvida. Talvez fosse melhor pensar mais um pouco.
          O tempo passava lentamente. O pêndulo do relógio era constante, marcando cada segundo com um som. Nenhuma solução aparecia em minha mente. Nenhuma forma de melhorar, de seguir sem chorar.
          Desisto. Chega de pensar. Vou deixar minha intuição me guiar. Só espero que ela esteja certa desta vez também.
          Liguei novamente todas as formas de comunicação do meu quarto. No subnick do msn escrevi: “Não me perguntem o porquê. Vou me mudar para o Sul e ser feliz.” Mandei mensagens para o Mateus, Diego e Fernanda falando da minha decisão e dizendo que sentia muito por ter que deixá-los assim. Os telefonemas logo começaram, me pedindo pra explicar melhor. O msn explodia de mensagens perguntando o porquê de uma decisão tão repentina...
          Calmamente expliquei a todos, como já tinha feito com meus pais. Era o melhor pra mim e o meu sonho. Caroline estava excessivamente feliz e não via a hora de arrumar as malas e encontrar-se comigo em Santa Catarina. Tudo estava perfeito para ela. Matt, Diego e Fernanda não conseguiam acreditar no que eu estava fazendo.
          Foram algumas horas até que finalmente todos perceberam que eu não mudaria meus planos e que embarcaria em duas semanas. Todos disseram que iriam levar-me até o aeroporto para me dizer adeus. Caroline disse que me buscaria no aeroporto do Sul.
          O tempo passou rapidamente. Recebi muitas visitas dos meus amigos em casa. Eles diziam que queriam aproveitar o máximo o restante do tempo que tinham comigo. Meu telefone não parava nem mesmo um instante. Prometi que mandaria uma mensagem assim que saísse do avião e avisaria endereço e telefone novos.
          O dia chegou. Dia 1º de dezembro. Todos estavam em minha casa no horário combinado. Nem mesmo um minuto de atraso. Ajudaram-me com minhas malas e levaram-me. Não quis que meus pais fossem também. Já teriam lágrimas demais apenas com meus amigos...
          A despedida fora dolorosa. Todo o preparo fora inútil. O distanciamento tinha deixado de existir nas duas últimas semanas e tínhamos voltado a ser melhores amigos. Insistiram para que eu desistisse, mas, por pouco, consegui voltar as costas para eles e entrar no avião que me levaria para uma nova antiga vida. Para uma vida com minha melhor amiga Caroline.
PS.: O texto acima não pertence ao livro Quarto dos Escritos.

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