terça-feira, 30 de março de 2010

Lua Cheia


A lua estava cheia e dava um brilho branco ao céu negro. Poucas estrelas podiam ser vistas, mas ainda assim a noite era linda. Apenas algumas nuvens cinza manchavam a negritude ao longe.
Saí da escola tarde, como era meu costume. Estudava em horário integral. Era comum chegar a minha casa após o anoitecer e encontrar quase todas as luzes da grande casa apagadas. O medo que antes enchia minha mente para entrar naquela casa sombria agora já não incomodava mais. Tudo virou rotina. Inclusive o pavor de chegar ao segundo andar que sempre era deixado totalmente às escuras.
Era apenas coincidência, mas sempre que eu entrava no meu quarto e ligava o computador para tentar escrever um pouco o telefone tocava. Cada dia era uma pessoa; às vezes minha mãe, meu pai, alguns amigos de meu pai procurando-o... Mas o caso mais raro era meu namorado ligar.
Acontece que numa terça feira comum, depois de muitas aulas estressantes de matemática, cheguei pensando em apenas descansar, sendo assim apenas troquei de roupa e deitei em minha cama oriental. O telefone logo tocou, como já era esperado, mas desta vez a voz era diferente das que sempre me atormentavam quando eu queria descansar. Era ele. O que eu julgara como o “homem da minha vida” ligara-me com a voz extremamente fria.
“Preciso conversar com você. Porque não está online?”
Ele desligou o telefone. Duas frases simples e já me deixaram completamente apavorada. O que ele queria comigo? Até ontem nós estávamos bem... Conversamos quase o dia inteiro e nem ao menos alguém levantou o tom de voz. Ele estava estranho.
Olhei pela janela enquanto o computador iniciava. A lua brilhava no alto como se nada mais acontecesse no mundo inteiro. Como se tudo estivesse adormecido, esperando a hora em que o sol amarelo tomaria o lugar da lua branca. Consegui ver as “manchas” na lua. Eram as crateras; apenas buracos no solo lunar, porém à distância são tão lindas.
O msn conectou automaticamente. Não tinha como fugir. Logo ele chamou minha atenção e, sem ao menos esperar minha resposta, mandou um texto que já parecia estar escrito há muito tempo.

Carla... Olha, sabe de uma coisa? Eu andei pensando esses dias e percebi que não tenho tido vida por sua causa. Não é que eu não goste de você, é só que eu preciso viver um pouco. Nenhum adolescente de 18 anos passa a semana inteira em casa porque a namorada não pode vê-lo. E ninguém passa o fim de semana sentado num sofá assistindo TV com a sogra. Pensa bem, eu sei que os últimos 10 meses foram ótimos, mas a rotina acabou com a gente. Não agüento mais ver o mesmo shopping sempre. As mesmas pessoas. Sempre seus amigos. Minha família reclama porque eu não saio mais com eles porque estou sempre com você. Por mais que meus amigos gostem muito de você eles sentem minha falta na hora em que vão sair. Me chamam sempre, mas nunca posso ir porque tenho que ir pra sua casa. Fora que... sei que estou sendo egoísta nesse ponto, mas você nunca cedeu aos meus pedidos. Você sabe sobre o que estou falando. Sei que é nova e tudo, mas... Você já tem 16 anos, sabe se cuidar... poderíamos ter ultrapassado os limites que você mesma nos deu. Talvez isso salvasse o nosso namoro. Ca, não me leve a mal... Simplesmente quero aproveitar minha juventude. Não quero mais perder meu tempo preso a alguém. Bem, não exatamente perder tempo, mas não viver minha juventude. Desculpe Carla. Sei que você vai ficar muito abalada... Não queria ouvir seu choro, por isso pedi pra você entrar no msn. E não... Antes que pense, não tenho outro alguém. Você foi única e importante pra mim, mas acabou.

Ele estava offline. Tinha apenas mandado o texto e saíra. Em meu porta-retratos estava uma foto minha e dele, na escola, onde eu tinha escrito “You Belong With Me” no vidro. A música da Taylor Swift traduzia meus sentimentos antes, quando ele era apenas um amigo e eu era apaixonada por ele.
Ele estava certo... Eu estava chorando. Começara a soluçar. Não tinha forças pra parar. As lagrimas corriam livremente por meu rosto e pingavam de meu queixo para a blusa azul bebê que ele tinha me dado quando completamos 10 meses de namoro. Abracei o John, meu urso de pelúcia que eu ganhara no meu aniversário, e continuei chorando.
A luz que vinha de fora escureceu repentinamente. O céu que antes estava negro com um círculo branco e lindo iluminando pouco agora se tornara uma cortina cinza. As nuvens haviam tomado todo o céu e coberto a lua cheia. Pensei em como se parecia com minha felicidade. Tudo estava perfeito, até que o vento empurrou nuvens cinza cobrindo a minha fonte de luz e felicidade e de repente o tempo mudara dentro de mim. Grandes gotas caíam do céu. A chuva estava forte demais para que pudesse continuar procurando as estrelas.
Deixei a janela fechada e liguei meu rádio. Tocava “You Belong With Me”. Aumentei o volume e deixei que a música me carregasse para o sono profundo, onde sonhei com o “homem da minha vida” caminhando na direção oposta a mim. Senti um gosto salgado em minha boca, mas recusei a acordar até que tudo no sonho estivesse resolvido e eu pudesse ter certeza que em meu céu a lua cheia novamente apareceria envolta de estrelas reluzentes.

PS.: O texto acima não pertence ao livro Quarto dos Escritos.

Um comentário:

Alien disse...

Feliz em ver o blog funcionando