terça-feira, 27 de abril de 2010

Gélido inverno

     Tenho estado tão... triste. Minha mente falhou em bloquear as emoções que ainda teimam em invadir meu ser. Agonia tem sido frequente.
        Minha tão amada solidão jamais me feriu tanto quanto agora o faz. O abandono de quem amo, ou amava, dói imensamente mais quando sem querer começo a sentir. Aquela sensação estranha que todos tem... Saudade. Jamais consegui livrar-me dela.
        Sei que não há fundamentos em tais pensamentos, mas sempre considerei o abandono e a solidão dádivas do destino para mim, mesmo não me achando merecedora de tanto. Sou apenas uma adolescente medíocre.
        Passar anos vivendo praticamente sozinha abriu meus olhos. Pais ausentes, irmãos que nem ao menos sei como estão, a casa grande vazia... Nada me trás consolo quanto à dor; o silêncio monstruoso invade a mansão juntamente com a negritude da noite e me aterroriza.
        Jamais confie em “amigos”. A humanidade é corrompida, e cada um busca apenas os próprios interesses, o melhor para si; é impossível que realmente alguém se importe comigo ou com meus problemas sem visar algo para si. Esta é a ordem natural. Apenas os melhores sobrevivem; estes são sempre os solitários.
        A solidão trás seus pontos positivos, como o homem poder estar consigo mesmo e ao mesmo tempo longe de outras pessoas.
        Junto com minha tristeza há o sentimento de culpa. Não encontro razões para tal... Destruir corações nunca foi encarado como algo perverso e digno de tal sentimento. Não me sinto hábil para conviver com alguém. Foi um erro me envolver.
        Antes a companhia daquele que deixei para trás me mutilava; agora sua ausência o faz. Ele é insubstituível, mas não há como voltar atrás. Aquilo que muitos chamam de destino costuma divertir-se torturando meu coração.
        Muitas vezes tentei mudar o tal... destino. As cicatrizes em minhas pernas, braços e pulsos mostram o quanto minha tentativa de fugir do sofrimento foi insistente, mas ainda assim sem sucesso, dado que ainda vivo. Não me arrependo de tê-las feito, mas de não concluí-las antes que alguém me encontrasse jogada contra o chão.
        Muitos dizem que minha história consiste em uma superação, uma vez que ainda estou viva... Ou quase. O torpor ainda invade minha mente, mas ele está diferente.
        Antes uma névoa envolvia minha mente, protegendo-me do exterior; tal névoa se dissipou e então o sofrimento começou. Forcei para que ela retornasse, mas em seu lugar encontrei gelo. Viver em um gélido inverno dentro da própria cabeça é doloroso.
        Tentar derreter o gelo para que voltasse a névoa somente piorou. Envolvi-me novamente com prazeres carnais e impossíveis; sonhei, criei expectativas... Descobri que não sei o que esperar. Não sei o que é ser feliz.
        Por mais que busque, ou queira, creio que jamais descobrirei o sentido de felicidade. Meu gélido inverno, em breve, voltará a ser o escaldante verão, onde sufocarei dentre vapores venenosos e voltarei a sofrer imensamente e suplicarei para que a dor estranha e distinta que o gelo trás para mim retorne para meu ser, transformando-me, de novo, em um gélido inverno.

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