quinta-feira, 16 de julho de 2009

Observador da Noite

Ouvir músicas instrumentais tem me dado motivos para refletir sobre a vida e, consequentemente, inspiração para escrever. É o segundo conto de hoje e, espero que esteja bom. :)
beijo, e boa tarde.
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Observador;


Ensinaram-me, há muito tempo, que a noite era uma criança, que nela havia diversão, que havia luzes e alegria, mas ao mesmo tempo era triste e temperamental.
Acreditei no que me disseram por ainda não saber o que havia por trás da escuridão da noite e via nela algo triste, melancólico, até que cresci e tornei-me uma adolescente pensativa e solitária, que vê na noite um abrigo nos dias tristes e melancólicos.
Comecei a observar as noites. Os olhares dos que passavam pela calçada vazia além da varanda de minha casa miravam o vazio sem perceber que estavam sendo observados; os prédios refletiam a luz da iluminação pública por toda a rua, até que uma delas queimou e deixou um buraco escuro, um vazio na noite.
Nunca imaginei que em minhas noites insones encontraria conforto na escuridão. Tornei a observar a cidade como fazia todas as outras noites. O relógio ao lado de minha cama marcava 3:27 e eu estava sentada, como já fazia a algum tempo, com as luzes do apartamento acesas e meu caderno vazio ao lado, aguardando ansiosamente que a noite me trouxesse a inspiração para uma crônica, um conto, ou mesmo uma frase, para descrever o conforto que a escuridão trazia consigo.
Como todas as noites, havia uma xícara de café e um livro ao lado de minha cama, esperando que eu tivesse força de vontade para levar minha mão até eles e degustar de meus mais simples prazeres, mas isso não acontecia.
Novamente encontrei uma luz acesa no prédio à frente. Meu companheiro nas noites insones. O meu vizinho desconhecido do sexto andar do outro lado da rua estava lá, sentado na varanda com as luzes do apartamento acesas. Imaginei o porquê de não o conhecer, já que passávamos a maior parte das noites juntos, sozinhos na escuridão.
Não havia mais fumaça subindo da xícara de café ao lado de minha cama, e a noite tinha se tornado menos fria, deixando claro que o dia estava prestes a nascer e que minha vigília estava se aproximando do fim.
Meu vizinho desconhecido havia retornado à seu apartamento, deixando a varanda receber os primeiros raios de sol da manhã vazia. Imagino o que ele faz nas noites em que me acompanha na escuridão. Imagino se ele escreve, lê, escuta música, reflete ou simplesmente observa como eu, a noite se transformar em dia.
No meio de minhas reflexões sobre a vida noturna desliguei o despertador e deitei em minha cama deixando que a exaustão me levasse à inconsciência que tanto desejava.

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